Olá
pessoas,
Cada sociedade
possui seus problemas não comparáveis, pois são possíveis somente para aquela
realidade. E aqui no Québec não teria como ser diferente, porém eu ainda não
consigo me conectar com muitos dos dramas daqui e outros ainda me parecem um
pouco surreais.
No entanto,
eu gosto de me informar todo tempo para tentar me aproximar dessa realidade,
pois acredito que isso também significa “integração”. Ainda que encontre
inúmeras pessoas aqui há mais de 5 anos que acham penosa e complicada essa
busca por referências sociais em jornais, revistas, documentários ou mesmo na
simples conversa com os outros.
Conversando
com algumas pessoas sobre imigração, cultura e tradição, percebi que muitos não
conheciam ou nunca tinham ouvido falar sobre “Accommodement Raisonnable” e por
isso achavam tão difícil entender o que os Québecas achavam de tudo isso.
“Accommodement
Raisonnable” é uma palavra criada no Québec e define toda tentativa das
sociedades laicas de diminuir o choque entre a cultura do imigrante e a cultura do local que o
recebe, fazendo concessões para melhor integrar as exigencias das diferentes
minorias religiosas. Ou seja o governo, em teoria, mudaria diversas leis e
costumes para não chocar o imigrante recém chegado.
Vocês sabem
da completa suspeita que os Quebécas tem contra as religiões, logo esse tema já
foi criado gerando alguma confusão.
Em 2006 o Québec
passava por uma grande efervescência relacionada com esse tema, por diversos
motivos, alguns dos que eu consegui pescar são:
- Uma escola judaica pediu que
uma academia em frente fechasse suas janelas com cortinas, pois as mulheres
fazendo exercício com pouca roupa atentava contra seus preceitos religiosos;
- Homens vindos de países
machistas não respeitavam mulheres policiais;
- Homens de turbante dirigiam
moto sem capacete pois o mesmo não caberia dentro dele. E retirá-lo seria
contra sua religião;
- Mulheres queriam usar as
piscinas públicas, mas para isso precisava da retirada de todos os homens. Pois
segundo a religião que elas praticam, mulheres não podem mostrar o corpo pra
homens desconhecidos;
- Pais prendiam os filhos em
casa ou praticavam atos crueis em nome da honra.
Na maior
parte desses casos, o governo deu razão para os reclamantes, pois por causa do Accommodement Raisonnable, pedir pra alguém mudar sua religião seria encarado
como preconceito contra o imigrante e sua cultura.
Após
inumeros casos como esse, várias cidades do Québec queriam que o primeiro
ministro anulasse os “Accommodements Religieux”. Sem nenhuma resposta do Jean
Charest, uma minúscula cidade chamada Hérouxville criou seu próprio código de
conduta para “proteger” seus habitantes. Nesse código estavam diversas normas
falando da igualdade entre os sexos, que os açougues venderiam carne de porco
junto com a de boi, que não se pode lapidar as mulheres e etc. Embora essas
normas não sejam tão loucas assim, a idéia de que todas as cidades criariam
seus próprios códigos de vida assustou o governo que resolveu criar uma comissão
Bouchard, onde um sociólogo chamado Gérard Bouchard (irmão do ex-primeiro
ministro) e um filósofo Charles Taylor iriam analisar tudo o que acontecia para ver
quais seriam os próximos passos.
Após mais
de 1 ano a comissão gerou um relatório dizendo o que poderia ser feito para que
a confusão terminasse, mais ao mesmo tempo salientando que a confusão só
aconteceu por causa do duplo-status Québeca de a maior comunidade dentro do
Québec mas a menor da américa do norte, que gerava um sentimento de
inferioridade, pois eles tem medo de serem absorvidos em meio de todas as
minorias que imigram.
O relatório
foi deixado de lado e não foi implementado e por isso ainda hoje temos inúmeras
discussões referentes à religião dos imigrantes e o choque cultural que ela
causa.
Não vou me
estender mais, então coloco dois vídeos. Um stand-up onde o humorista fala
sobre o assunto:
E uma
música falando sobre os problemas na cidade de Hérouxville.