Oh Canadá!

Blog criado para informar familiares e amigos sobre nossas aventuras e desventuras em terras canadenses

Viagem de Prospecção - Toronto

O início da nossa viagem para ver se as histórias faziam jus ao real

Viagem de Prospecção - Ottawa/Gatineau

A nossa viagem chega na capital canadense e na divida com a Belle Province.

Viagem de Prospecção - Ville du Québec

Visitando a lindíssima Ville du Québec.

Viagem de Prospecção - Montréal

O final da nossa viagem nos levou à Montréal

10 de dezembro de 2012

Les Accommodements Raisonnables



Olá pessoas,

Cada sociedade possui seus problemas não comparáveis, pois são possíveis somente para aquela realidade. E aqui no Québec não teria como ser diferente, porém eu ainda não consigo me conectar com muitos dos dramas daqui e outros ainda me parecem um pouco surreais.

No entanto, eu gosto de me informar todo tempo para tentar me aproximar dessa realidade, pois acredito que isso também significa “integração”. Ainda que encontre inúmeras pessoas aqui há mais de 5 anos que acham penosa e complicada essa busca por referências sociais em jornais, revistas, documentários ou mesmo na simples conversa com os outros.

Conversando com algumas pessoas sobre imigração, cultura e tradição, percebi que muitos não conheciam ou nunca tinham ouvido falar sobre “Accommodement Raisonnable” e por isso achavam tão difícil entender o que os Québecas achavam de tudo isso.

“Accommodement Raisonnable” é uma palavra criada no Québec e define toda tentativa das sociedades laicas de diminuir o choque entre a cultura  do imigrante e a cultura do local que o recebe, fazendo concessões para melhor integrar as exigencias das diferentes minorias religiosas. Ou seja o governo, em teoria, mudaria diversas leis e costumes para não chocar o imigrante recém chegado.
Vocês sabem da completa suspeita que os Quebécas tem contra as religiões, logo esse tema já foi criado gerando alguma confusão.

Em 2006 o Québec passava por uma grande efervescência relacionada com esse tema, por diversos motivos, alguns dos que eu consegui pescar são:
                - Uma escola judaica pediu que uma academia em frente fechasse suas janelas com cortinas, pois as mulheres fazendo exercício com pouca roupa atentava contra seus preceitos religiosos;
                - Homens vindos de países machistas não respeitavam mulheres policiais;
                - Homens de turbante dirigiam moto sem capacete pois o mesmo não caberia dentro dele. E retirá-lo seria contra sua religião;
                - Mulheres queriam usar as piscinas públicas, mas para isso precisava da retirada de todos os homens. Pois segundo a religião que elas praticam, mulheres não podem mostrar o corpo pra homens desconhecidos;
                - Pais prendiam os filhos em casa ou praticavam atos crueis em nome da honra.

Na maior parte desses casos, o governo deu razão para os reclamantes, pois por causa do Accommodement Raisonnable, pedir pra alguém mudar sua religião seria encarado como preconceito contra o imigrante e sua cultura.

Após inumeros casos como esse, várias cidades do Québec queriam que o primeiro ministro anulasse os “Accommodements Religieux”. Sem nenhuma resposta do Jean Charest, uma minúscula cidade chamada Hérouxville criou seu próprio código de conduta para “proteger” seus habitantes. Nesse código estavam diversas normas falando da igualdade entre os sexos, que os açougues venderiam carne de porco junto com a de boi, que não se pode lapidar as mulheres e etc. Embora essas normas não sejam tão loucas assim, a idéia de que todas as cidades criariam seus próprios códigos de vida assustou o governo que resolveu criar uma comissão Bouchard, onde um sociólogo chamado Gérard Bouchard (irmão do ex-primeiro ministro) e um filósofo Charles Taylor iriam analisar tudo o que acontecia para ver quais seriam os próximos passos.
Após mais de 1 ano a comissão gerou um relatório dizendo o que poderia ser feito para que a confusão terminasse, mais ao mesmo tempo salientando que a confusão só aconteceu por causa do duplo-status Québeca de a maior comunidade dentro do Québec mas a menor da américa do norte, que gerava um sentimento de inferioridade, pois eles tem medo de serem absorvidos em meio de todas as minorias que imigram.
O relatório foi deixado de lado e não foi implementado e por isso ainda hoje temos inúmeras discussões referentes à religião dos imigrantes e o choque cultural que ela causa.
Não vou me estender mais, então coloco dois vídeos. Um stand-up onde o humorista fala sobre o assunto:


E uma música falando sobre os problemas na cidade de Hérouxville.


20 de novembro de 2012

Vídeo de um ano - atrasado

Olá a todos.
Uma passada rápida só pra publicar um vídeo que estava querendo finalizar pela época de um ano. Não deu, mas antes tarde que nunca.
Ele reúne algumas imagens mostrando a passagem das estações ao longo do ano.


Abraços
Marcos

14 de novembro de 2012

Trouver un emplois... Cadê a CLT?


Olá a todos.
Bom, é esperado que após o fim do curso de integração a procura por um emprego seja um passo certeiro. Comigo não foi exceção; uma semana antes do término eu já comecei a enviar meu CV.

Antes, deixa eu explicar um pouco o título da postagem: Cadê a CLT?
No Canadá os contratos de trabalho são muito diferentes do que conhecia no Brasil, em relação aos direitos e deveres trabalhistas. As normas que regem a relação de trabalho estão descritas na Comission des normes du travail, entretanto, em função de convenções coletivas de sindicatos elas podem variar (positivamente) um pouco. Usando as férias como um exemplo: enquanto no Brasil, via CLT, o funcionário poderia ter 30 dias de férias remuneradas, aqui são de 2 a 3 semanas, a depender do tempo de trabalho; mas pode variar bastante.

Começar a trabalhar no Québec é um exercício de paciência e atenção para conhecer as diferentes siglas e regras. Para a minha profissão, no atual hospital (sim, pode variar) existem as seguintes características:
1. Pagamento quinzenal;
2. Escala de trabalho quinzenal (dias e horários);
3. Valor de salário fixo baseado em horas trabalhadas, determinado por convenção coletiva.
4. Sindicalização obrigatória (sem escolha de qual sindicato). No caso dos enfermeiros que trabalham no sistema público, o principal sindicato é a FIQ (Fédération Interprofessionnelle de la santé du Québec).
5. Turnos de trabalho de 8 ou 12 horas. A maioria dos hospitais francófonos funciona nos turnos de 8 horas (nuit - 0:00h às 8h; jour- 8h às 16h; soir- 16h às 0:00). Eu começo no da noite, total novidade pra mim.
6. Rotação de jornada: os enfermeiros podem trabalhar em tempo completo (10 dias em 15 dias) ou tempo parcial (menos de 10 dias em 15 dias). Eu estranhei muito a primeira vez que ouvi: "eu trabalho sete quinzena"... Mas depois entendi a lógica.
7. Impostos variados!

Uma vez enviado o CV fui chamado para alguns processos seletivos. Nesse item nada muito diferente dos moldes brasileiros: entrevista, situações clínicas e perguntas gerais sobre personalidade e percurso na profissão. Fui aprovado e finalizei na semana passada a fase de orientação teórica num hospital próximo de casa. Recebemos algumas informações práticas sobre a organização dos serviços, dos protocolos e do sistema informatizado que utilizam para gerenciamento de certas informações sobre o paciente e laboratório; ainda não há prontuário eletrônico. O grupo de enfermeiros CEPIs contratados (foto acima) vem do Brasil (3), França, Madagascar, Cuba, Peru, Marrocos e Costa do Marfim.

Agora é momento de se adaptar ao novo ambiente e colegas e se preparar para a prova da Ordem em março. Agradeço aos vários comentários do post anterior com as boas energias pra esta fase.

Marcos

20 de outubro de 2012

Finalizando Curso de Equivalência para Enfermeiros


Olá a todos.

Uma ótima novidade: ontem conclui uma etapa importante da lista de exigências para a entrada em minha ordem profissional que foi a finalização do curso de integração para enfermeiros (do qual falei aqui ).
Ao longo de 7 meses tive uma revisão das principais disciplinas e práticas relacionados ao cotidiano da enfermagem no Québec. Os assuntos variaram desde as bases legais do exercício profissional, passando pela caracterização do sistema de saúde e indo até a etapa das experiências variadas nos estágios obrigatórios.

O curso de integração faz pensar mais profundamente algumas questões associadas à adaptação dos imigrantes ao mercado de trabalho e à sociedade quebequense como um todo. Não tenho pretensão de fazer um retrato fiel e aplicável aos demais profissionais que possuem suas respectivas ordens, mas no caso dos enfermeiros durante o curso, muitos se depararam com a situação aparentemente incoerente de "há enorme escassez de enfermeiros, mas a Ordem faz de tudo para complicar nossa possibilidade de trabalhar". Para entender esse pensamento ressalto três pontos importantes: em primeiro, a função da Ordem é de proteger o público (os pacientes) e para isso ela fiscaliza e orienta as ações dos enfermeiros para que sejam competentes e seguras, não importando se o profissional é formado no QC ou no exterior. Em segundo, a divisão de trabalho na enfermagem no QC é diferente do modelo que conhecemos no Brasil, no qual o enfermeiro tem funções assistenciais mais limitadas (em razão da enorme carga de trabalho administrativo e da supervisão do restante da equipe), e aqui o trabalho do enfermeiro é praticamente assistencial e os auxiliares de enfermagem fazem parte de uma outra Ordem. Em terceiro ponto vem o fato do grupo de enfermeiros imigrantes ser uma miscelânea de etnias, línguas e culturas profissionais. Por exemplo, há locais no planeta onde os enfermeiros só administram a medicação prescrita e nem mesmo tem o direito de se dirigir ao médicos pois é falta de respeito. Em outros, há imensa influência da religião no modo como cuidam dos pacientes. E de repente, todos se vêem juntos fazendo um curso de integração ao modelo quebequense (vale lembrar que cada província gerencia o sistema de saúde de modo independente) no qual o enfermeiro é um ser autônomo, crítico, igualitário ao médico e demais profissionais de saúde dentro da rede de serviços e tem uma enorme boa reputação perante o público em geral.

Esses elementos todos associados às bagagens pessoais e familiares dos alunos faziam com que as vezes algumas dificuldades nos estágios se traduzissem em pensamentos comuns a todos: imigrar e (re)começar não é fácil; tem que se ter muita força de vontade, e o principal deles "a Ordem dificulta demais a vida dos enfermeiros estrangeiros", o que eu particularmente discordo. E por quê?
Porque a função do curso de integração é apresentar o sistema de saúde do QC aos alunos, prepará-los para o exame da Ordem e colocá-los num patamar mínimo de integração profissional para que consigam trabalhar de modo autônomo e seguro após o término do curso. E é justamente em função desses objetivos não atingidos que os alunos reprovam do curso. Minha turma começou com 35 alunos e terminou com 19. As principais causas de reprovação remontam às dificuldades em demonstrar um bom raciocínio clínico e de oferecer uma assistência segura e livre de erros.

É inevitável a reflexão após o fim do curso sobre os pontos positivos e negativos:
Os vários pontos positivos: qualidade dos professores e organização do Cégep; dois hospitais de estágio com serviços variados; troca de experiências entre alunos de realidades distintas. Do ponto de vista pessoal,  consegui retornar ao ambiente hospitalar depois de alguns anos de trabalho em saúde pública de um modo menos "traumático" que imaginava e ainda gostei. rs
Os aspectos negativos: distância (relativa) do Cégep, cujas aulas e laboratórios se dividem entre os campi em Longueuil e Saint-Hubert; duração mais longa se comparado aos outros Cégeps e com maior carga horária de sala de aula, com cerca de 8h/dia. E o mais sofrido é quando pessoas queridas reprovam e perde-se a companhia delas.

Uma vez acabado o curso de integração começa:
a) Etapa dos envios de CV e entrevistas de emprego para CEPI (Candidate à l'exercice de la profission d'infirmier), que é uma permissão de enfermeiro com restrições, pois não pode atuar em alguns setores nem realizar algumas atividades mais complexas.
b) Estudar para a prova da Ordem no mês de março/2013, a qual uma vez aprovada, recebo minha permissão definitiva de enfermeiro.

Agradeço ao apoio e pensamentos positivos de amigos (reais e virtuais) ao longo do caminho e a enorme paciência do Jhon, e relembro que valeu a pena cada esforço!

Info sobre CEPI  e sobre a prova da Ordem.

Marcos.


14 de setembro de 2012

Fatos inusitados


Olá pessoas,

Da minha janela do trabalho eu consigo enxergar muito bem os pedestres, os carros, as manifestações... Enfim, tudo o que acontece na rua e tenta chamar minha atenção. Nesse tempo que trabalho lá (e sento no mesmo local) vi cenas inusitadas, mas nada como o que aconteceu no outro dia.

Um pombo que sobrevoava os bancos da praça “resolveu morrer sentado no banco”. Tal fato não deveria gerar nenhum tipo de lembrança na minha cabeça se não fossem os tais pedestres que passaram ao lado do “defunto”.

Primeiro uma mulher com um bebê de colo, sentou ao lado do pássaro e tentava fazê-lo levantar enquanto mexia, com a mesma mão, no seu filho. Ignorando completamente a quantidade de doenças que um simples pombo pode causar. Talvez ela tenha pensado que estando morto, as bactérias tenham morrido junto com ele...enfim...

Depois de algum tempo uma senhora sentou ao lado do bicho enquanto saboreava uma bebida , porém em um determinado momento ela jogou a bebida no corpo desfalecido da ave.

Mas o pior ainda estava por vir, dois desabrigados sentaram nas imediações do banco onde estava a ave e após alguns minutos resolveram ver do que se tratava aquilo.

Após  olharem com carinho para a ave e demonstrar que tirariam o bicho de cima do banco, um dos desabrigados pegou a ave e colocou na cabeça, o usando como um chapéu.
Inúmeras pessoas passavam pela cena e olhavam os dois sem fazer nada. Mas devido à essa cena e indignação das pessoas que trabalham comigo, ficamos um tempo consternados esperando pelos próximos acontecimentos e pudemos ver a quantidade de pessoas que paravam para conversar com os dois. Não pareciam estar falando sobre o novo chapéu de um deles, mas sobre o fato deles estarem na rua e tentarem entender os motivos. Diversos homens engravatados paravam e sentavam ao lado dos dois para ouvir suas histórias e a conversa seguia sempre animada.

O pássaro continuou na cabeça do homem até que chegou uma garota de colete vermelho para lhe retirar daquele local. Ele lhe entregou suas sacolas e a seguiu sem reclamar enquanto se despedia dos seus amigos de colarinho branco que estavam sentados ao seu lado.

Depois me avisaram que a garota de colete vermelho era uma voluntária de um centro de apoio aos desabrigados do bairro em que trabalho.  O que acontece é que eles não podem ser obrigados à irem aos centros comunitários (o que eu concordo plenamente), então todas as pessoas que sentavam e batiam papo eram trabalhadores dos prédios vizinhos (e do prédio que trabalho) que tentavam os convencer de que o abrigo era um bom lugar para estar. Após o aceite, eles ligaram para os voluntários que foram lá para os acompanharem.

Adorei interessante poder acompanhar esses acontecimentos.

Ah! E antes de ouvir gracinhas, apesar de termos acompanhado tudo isso, nós trabalhamos bastante por lá, ok?

Abraços

13 de agosto de 2012

Update: Curso de Francês para profissional da saúde



Olás, 
Como sei que alguns enfermeiros que se interessam pelo processo de imigração e posterior adaptação quebequoise acompanham o blog, segue uma dica bacana.
O MICC oferece sessões de francisação especializado para profissionais de saúde,  em tempo parcial em três Cégeps da região de Montréal: Cégep Édouard-Montpetit (Longueuil), Cégep Montmorency (Laval) e Cégep du Vieux Montréal (centro).

Eu fiz o curso na sessão de outono de 2011 no Cégep Édouard-Montpetit e gostei. Na verdade gostei mais da interação com o grupo, pois me permitia praticar o francês.

Pontos positivos: possibilidade de se habituar ao vocabulário técnico da área; conhecer profissionais de enfermagem e outras áreas de saúde (networking).

Pontos negativos: tempo parcial (noite), sem auxílio financeiro (salvo para quem tem filhos em garderie); material utilizado é voltado para enfermeiros (ponto negativo para demais profissões).

Mais info: site MICC.

Bons estudos.

Update: Respondendo à algumas questões:
1. O nível de francês exigido é intermediário-avançado, mas nas turmas existem grande diferença. Se tiverem acima do básico, não tenham receio em tentar.
2. No Édouard-Montpetit eu fiz uma redação como etapa de seleção, com dois temas de saúde a escolher.
3. O curso utiliza um material próprio que contém: texto (para discussão e elaboração oral de argumentação), exercícios individuais e em grupos (praticar escrita de palavras e expressões técnicas) e revisão de gramática.
4.Em relação às demais profissões de saúde: na minha turma havia uma farmacêutica, uma bióloga, uma fisioterapeuta e alguns enfermeiros. Todos conseguiram tirar bastante proveito do curso, mesmo quando algum texto era mais voltado à uma situação-caso hospitalar, afinal as experiências de trabalho (e de vida) eram muito ricas.
5. Um adendo importante: o curso tem um formato padronizado, mas varia conforme a atuação do professor.

Abraços

10 de agosto de 2012

E quando se faz 1 ano?


Há 1 ano atrás víamos pela janela do avião o sol banhar Montreal, como ja havíamos visto antes, mas desta vez a sensação era outra devido à ansiedade e o gosto ácido do medo.
há 1 ano atrás confirmávamos nosso passo no escuro e tudo ficava mais real, tudo ficava mais sério: finalmente nos tornávamos imigrantes.

Felizmente muitas coisas aconteceram como planejávamos ou muito melhor. mas não deixou de ser emocionante com coisas dando certo no último segundo ou tendo que ser feitas de maneira diferente.

Correndo o risco de me tornar repetitivo : imigrar não é fácil, pois significa um desgaste físico e psicológico diário que acaba tendo impactos em todos os aspectos da nossa vida. Eu particularmente não consigo imaginar como teria sido se tivesse imigrado sozinho, nesse 1 ano a presença/ajuda/apoio do Marcos foi imprescindível. Quando tudo ao seu redor se torna estranho e hostil precisamos ter alguém que nos faça lembrar quem somos, o que somos e nos ajuda a criar uma bolha de paz no meio do turbilhão.

Nesse 1 ano conhecemos muito mais de nós mesmos, testamos nossas certezas e valores, passamos por provas de fogo que nos transformaram de maneira que não achávamos possível.
Nesse 1 ano conhecemos pessoas de toda parte do mundo e percebemos que, felizmente e infelizmente, o ser humano não é muito diferente, seja aqui ou no Brasil.
Nesse 1 ano descobrimos que a saudade é um sentimento forte e doloroso, mas suportável e que se a sentimos é porque encontramos muitas pessoas especiais pela vida e o problema seria não sentir falta delas.

Ou seja, nesse 1 ano vivemos intensamente cada dia e cada segundo, sofremos, rimos, choramos e regozijamos todos os momentos. Não sabemos o que o Canadá nos reserva, mas estamos prontos para o que tem pela frente. Que venham mais anos!!!

Beijão e abraços.

24 de julho de 2012

O Mito do Bom Selvagem


Olá a todos.

Semana passada estava conversando com uma colega de curso de integração. Em um certo momento, enquanto falávamos sobre motivos de imigração ao Canadá, ela se mostrou surpresa e incrédula quando lhe disse sobre a violência paulistana ser uma de minhas razões motivadoras (já fui assaltado duas vezes).
Ela me descreveu a sua idéia de um Brasil com lindas paisagens naturais e com uma população igualmente bela e pacífica. Disse imaginar que haveria problemas como em todos os lugares, mas não "violência".
A conversa seguiu em torno da definição da violência e seus graus (da desavença de vizinhos ao genocídio). Foi inevitável algumas comparações históricas e culturais mundo afora.
O bacana da conversa foi que ambos conseguimos sair dela com mais dúvidas do que começamos. Isso é positivo do ponto de vista da filosofia. Fiquei com a lembrança do mito do bom selvagem na cabeça....

No sábado, o Jônatas me envia um vídeo que aprofunda a discussão do pacifismo violento do brasileiro: "O ódio no Brasil", uma palestra do historiador Leandro Karnal. É um pouco longo, mas vale a pena.

Link palestra editada para TV: http://www.cpflcultura.com.br/2012/05/28/o-odio-no-brasil-leandro-karnal/
Link palestra na íntegra: http://www.youtube.com/watch?v=iG-OGc1bufs

Descrevo algumas falas que me chamaram a atenção:
1. Citando Sérgio Buarque: os brasileiros são cordiais (de cordis - coração, em latim) por natureza, inclusive quando odeiam. Temos a característica passional e impulsiva como marca cultural.
2. Nunca falou-se no Brasil em guerra civil; nós vivemos agitações: evitamos nominar a violência, mesmo que por ano morram quase o equivalente ao total de vítimas da guerra do Vietnã em acidentes de trânsito.
3. A violência é sempre do outro, nunca minha, sempre da outra família, cidade ou país.
4. Exemplo de como o ódio pode unir pessoas: numa sala de aula diversas tribos/panelas se odeiam mutuamente, mas quando um professor dá uma nota baixa geral, todo o ódio se volta pra ele e as tribos antes inimigas se unem diante de um inimigo maior.
5. Sociedade brasileira é falocêntrica, ou seja, a briga e agressividade são qualidades do forte, do corajoso, do bem-sucedido; já a concordância e a harmonia são para os fracos.
6. Pós-modernidade criou um novo ódio: o do consumo com sua obrigação de felicidade.

É isso. Abraços.
Marcos.

25 de junho de 2012

E como foi quando o visto chegou?


Olá pessoas,

Há 1 ano atrás recebemos uma notícia que gerou um turbilhão de sentimentos e botou em teste todo e qualquer planejamento que tinhamos feito: nosso vistos ficaram prontos.

Embora essa notícia tenha sido muito aguardada, nada tinha nos preparado para a sensação do controle finalmente voltando para as nossas mãos, não tendo consulado ou correios para culpar por não engatilharmos os planos.


A dúvida de quando comprar as passagens, quando contar pra família que finalmente tudo tinha terminado, quando colocar em palavras que a euforia e o medo não cabiam mais no peito... Mas o mais importante, como fazer o tempo parar e correr simultaneamente.

O apoio da família veio muito depois, a primeira reação foi de choque, mesmo eles sabendo dos nossos planos desde o começo. A notícia fez a viagem mais real, a separação começar a doer, a ânsia de ficar junto e saber que não seria suficiente.

Contar no trabalho que nos desligaríamos era outro passo que mostrava a seriedade das decisões. Avisar à todos que não teríamos mais possibilidade de nos vermos em um final de semana para matar a saudade, de aparecer para dar um abraço no aniversário ou de somente passar para falar “oi”.

Receber o visto foi o aviso que um caminho estava terminando. Que estavamos mesmo trocando o certo pelo incerto e que estávamos desejando dar um passo sem saber se o terreno à frente era seguro.

Mas mais do que tudo, receber o visto foi também foi o aviso que um novo começo se aproximava, trazendo possibilidades infinitas e nos enchendo novamente de esperança e saber que todo esse turbilhão de sentimentos valia à pena pois as pessoas e sentimentos foram base e alicerce que sustentaram e sustentarão os próximos saltos e vôos.

E mesmo que ainda não tenhamos 1 ano de Canadá, mesmo que para os outros essas pequenas comemorações não valem nada, acredito que temos que comemorar também as pequenas vitórias.

E por tudo isso, só tenho a dizer à todos: Obrigado.

Até o próximo post.

Jhon

10 de junho de 2012

Da arte de construir boas lembranças


O post não tem o intuito de ser poético, mas um pouco de reflexão no cotidiano tornam os dias mais significativos e menos automáticos.
Em março iniciei o curso de integração em enfermagem e com expectativas controladas, em função de já conhecer alguns outros enfermeiros brasileiros que já haviam trilhado o mesmo percurso. Mas, como toda boa receita de cozinha passada oralmente muda o sabor dependendo do calor das mãos do cozinheiro, assim foram minhas expectativas mudando à medida que o curso avançava.
E estão sendo muito boas as vivências com pessoas de diferentes lugares do planeta e com histórias de trabalho tão diversas quanto ricas.
Tudo já começa com o grupo de brasileiras presente: uma do sul, sudeste e duas do nordeste: sotaques, vivências e jeito de “fazer” a enfermagem tão peculiares que às vezes parecem que somos de países diferentes. E são as diferenças que somam!

E o percurso profissional dos demais colegas são universos à parte: pesquisadora de laboratório farmacêutico na produção de vacina contra HPV; enfermeira em ações humanitárias junto ao Médicos Sem Fronteiras; enfermeiras em ações de controle de epidemia de AIDS; especializadas em UTI de neonatos, de cardiologia, etc.

Um ponto que me chama a atenção neste período do curso que antecipa os estágios em dois hospitais de Longueuil: a necessidade de manter-se flexível e aberto aos desafios constantes de adaptação. A flexibilidade permite um melhor entrosamento às situações difíceis como o estresse de estudar vários assuntos ao mesmo tempo e em francês técnico, cheio de expressões, além de lidar com as diferentes personalidades reunidas pelo acaso em mesma sala de aula.

O curso é bastante exaustivo, tanto no quesito carga horária (maioria das aulas das 8 e meia às 16 hs) todos os dias, pela distância (Longueuil) e pela quantidade de assuntos para revisar, o que é claro é mais complicado dependendo da rotina pessoal dos alunos: se casados, se tem filhos, etc. E é o caso da maioria da sala, com certeza mais de 85 % casados e com filhos.

Meu principal desafio é fazer o retorno ao hospital após uma vida profissional voltada para a saúde pública não hospitalar, com suas mazelas e riquezas. Para mim é época de revisar conhecimentos, construir novos caminhos de prática e experimentar.

A frase que ilustra o título tem a ver com esse meu sentimento atual, essa vontade de viver novas emoções hoje e assim, construir minhas boas lembranças. Minha avó costumava dizer que só levamos da vida as lembranças e as saudades, e que as primeiras sendo boas atenuam as segundas.

Ótimo período de calor aos que aqui estão; aproveitem os festivais, as cores e sabores da estação.

Marcos

15 de maio de 2012

Salão da Imigração e da integração ao Québec

Olá pessoas!

Aqui tudo continua seguindo seu ritmo e estamos muito felizes com a direção que as coisas tem tomado na nossa vida. Mas não é sobre isso que quero falar hoje.

Lendo o jornal vi uma reportagem que talvez interesse os imigrantes e os "recém-chegados" que moram em Montréal (e arredores) : O Primeiro Salão da Imigração e da integração ao Québec, que ocorrerá nos dias 18 e 19 de Maio (sim, essa semana).

Ao chegar você receberá um passaporte fictício, de acordo com sua condição no Canadá, e poderá encontrar com mais de 80 organismos de apoio aos imigrantes dos mais diversos setores : Serviços diversos, emprego, formação, regiões do Québec e etc.

É um bom lugar para tirar dúvidas, pegar dicas e trocar informações com outros imigrantes que estão com dúvidas ou somente precisam de um apoio para esse começo em solo Canadense.

Para mais informações, aqui está o site oficial : http://www.salonimmigration.com/ .

Eu trabalho ali perto, com certeza darei uma passada pro lá. Seria besteira minha achar que já sei tudo e não me surpreenderei com nada...

Até!


6 de abril de 2012

E a revolução continua tranquila?

Olá pessoas!

A revolução tranquila completará 52 anos esse ano. Vira e mexe o assunto volta aos holofotes, seja por causa da corrupção, seja por causa da alta das taxas escolares ou por puro saudosismo. Mas o que muitos colunistas falam é que com a revolução tranquila, os québecas fizeram um acordo de pagar mais taxas por educação acessível, sistema de saúde abrangente, estado laico e uma série de outras coisas que não estão sendo mais tão vantajosas (mas isso é discussão para outro post).

O estranho é que mesmo eu achando que a história da revolução tranquila era algo que devia já estar cravado no cérebro de todo imigrante que deseja vir para a província do Québec, encontro inúmeras pessoas que não fazem a mínima idéia do que isso seja.
Em uma das minhas andanças por sites diversos eu encontrei esse aqui : http://www.revolutiontranquille.gouv.qc.ca/ feito pelo governo do Québec para exatamente falar, explicar e celebrar esse fato que mudou o Québec ao que conhecemos hoje.

Espero que gostem!


1 de abril de 2012

Imposto de renda


Olá pessoas!

 Para quem trabalha aqui no Canadá, faz um tempo que recebeu o famoso T4. É dessa forma que muitos( não posso generalizar, mas todos que conheço o chamam desta forma) chamam o informe de rendimentos referente aos salários, descontos e benefícios.
Assim que o recebemos podemos começar o preenchimento da declaração do imposto de renda provincial e federal. Se no Brasil já era incrivelmente chato fazer a declaração, o fato daqui termos que fazer 2 não me motiva...


Como dá para ver na imagem ao lado, o T4 é dividido em vários campos numerados e padronizados, o que ajuda muito na hora de preencher a declaração . Quando lemos o guia da declaração de imposto, encontramos inúmeras citações do tipo "Coloque o conteúdo do campo 40 no campo 345".  Isso tudo é essencial quando fazemos a declaração a primeira vez já que não poderemos utilizar os variados softwares para nos ajudar. Na primeira vez que fazemos a declaração não temos um código de identificação de cliente e por isso não poderemos enviar pela internet, temos que usar o correio. Porém nada nos impede de utilizar os softwares para nos ajudar no preenchimento e no entendimento dos valores e porcentagens, para depois preencher os formulários manualmente.



Os formulários também são numerados, e por isso que fica incrivelmente mais simples entender os guias, mas isso não significa que fica fácil... Os guias da declaração provincial se encontram nesse link : http://www.revenuquebec.ca/fr/citoyen/impots/dec_courante/doc_tp1_courant.aspx junto com todos os anexos e os guias da declaração federal encontram-se aqui : http://www.cra-arc.gc.ca/menu/AFAF-e.html

Também nos dois links estão listados todos os reembolsos que temos direito (como do transporte público por exemplo) e todas as taxas que podemos pagar.

Um lembre-te, todos que estavam morando aqui no Canadá em 31 de Dezembro devem fazer a declaração, mesmo que não tenham recebido nenhum tostão.

Espero voltar aqui em post futuros para dizer o quão feliz estou ao receber meu reembolso rsrs

Até outro post.

Jhon


9 de março de 2012

Iniciando o Curso de Integração

E eis que comecei nesta semana o curso de integração para enfermeiros diplomados fora do Québec.
Como já descrevi aqui em outras ocasiões, trata-se da etapa 2 de 3 para obter o registro de enfermeiro no QC. A etapa 1 foi a equivalência de diploma e avaliação do dossiê pela Ordem; a 2 é o presente curso e a última delas é uma prova teórico-prática para ser registrado na Ordem.

O Curso:
É um curso em tempo integral composto de 6 disciplinas (teóricas, laboratórios e estágios inclusos), com duração de 710 horas no total. Esse é o cronograma do curso chamado “tronco comum”, pois há enfermeiros que necessitam cumprir disciplinas adicionais determinadas pela Ordem, como saúde mental ou geriatria, que podem prolongar o curso até 2013. Eu farei somente o tronco comum, com término no fim de outubro.
Para os que se interessarem, as disciplinas são: i) Atualização em informática, ii) Contextualização da prática de enfermagem no QC; iii) Introdução à enfermagem; iv) Enfermagem Médico-cirúrgica I; v) Enf. médico-cirúrgica II; vi) Francês técnico para profissionais de saúde.

O Cégep:
Farei o curso no Collège Édouard-Montpetit, em Longueuil, um dos três na região de Montréal que oferecem o curso. As aulas e laboratórios se concentrarão no campus em Saint Hubert, logo, vou relembrar meus velhos tempos de faculdade onde tinha que madrugar para as aulas da manhã...
Gosto bastante deste Cégep (já havia feito um curso de francês lá no ano passado), considerando sua infra-estrutura e professores, mesmo sem ter parâmetros de comparação com os demais colégios de Montréal.

A Turma:
É um grupo de 30 enfermeiros, mas também irão participar das aulas e estágios um pequeno grupo de enfermeiros quebequenses que estão em curso de atualização. Um deles me explicou da exigência do curso: é uma imposição da Ordem para os enfermeiros que ficaram mais de quatro anos fora dos registros dela ou que não trabalharam um mínimo de 500 horas nos últimos quatro anos.
Para as aulas práticas e laboratórios os alunos foram divididos em grupos A e B.
No meu grupo estão enfermeiras vindas do Haiti (maior número, em 6), Marrocos, Algéria (o outro enfermeiro do grupo), Venezuela e Romênia. No outro grupo estão quatro enfermeiras brasileiras que conheci durante uma sessão de acolhimento na quarta-feira.

A Semana inaugural:
Esta semana tivemos a atualização de informática (quatro dias). As aulas se destinavam a fornecer conceitos básicos sobre uso do sistema de comunicação professor-aluno do colégio, por meio do qual são disponibilizados documentos e notas. E também dar noções básicas (mesmo!) de uso do Word, como criação de pastas, arquivos e modelos. Para evitar o tédio, fiquei observando (e ajudando, quando possível) minhas colegas de bancada, que começaram a travar uma batalha contra o mouse...
Esses episódios de grandes dificuldades com o computador me fizeram pensar um pouco sobre as diferenças entre as formações e sobre o jeito que enxergamos nossas próprias capacidades e limites. Sem filosofar, percebi que as diferenças podem ser enormes entre as formações profissionais, mas que o importante é como lidamos com elas. Houve uma enfermeira que se entediou tanto que abriu o bate-papo do Yahoo para passar o tempo. Eu preferi exercitar minha paciência e tentar entender que o momento de aprendizado de cada um não é uniforme. Até mesmo porque em outras situações, como as de comunicação com o paciente, por exemplo, as francófonas podem ficar impacientes com meus tropeços na língua. Aprendi a duras penas que na vida as diferenças somam, tornam o cotidiano mais rico, especialmente porque sem diferenças de pensamentos não há mudança, não há crítica.
Um outro ponto interessante da semana, e me perdoem os que acharem isso inevitavelmente sem sentido, foi que o colégio nos disponibiliza um “sistema de crédito de impressão”, no qual posso comprar créditos e utiliza-los para imprimir nos laboratórios de informática (um documento em preto e branco, por exemplo, custa 5 centavos a página). Achei interessante pela responsabilidade social, do tipo “saber quanto custa aquilo que se está fazendo uso”, pois como estudei em faculdade pública, estava acostumado a ver justamente o inverso - alguns colegas apenas apertavam o OK e nem queriam saber quem pagaria a conta...
E uma última observação da primeira semana: como é cansativo ouvir, ler, falar e, sobretudo, pensar em outra língua o dia todo enquanto não se está acostumado. Eu chegava todos os dias em casa com dor de cabeça. Ainda bem que lá estava o Jhon, sempre disposto a ouvir minhas histórias intermináveis.

Bom, agora é tempo de estudar bastante, pois o curso exige e sobrecarrega. Mas chego lá!

Abraços a todos.

3 de março de 2012

Quem é vivo sempre aparece!


Olá Pessoas,

Antes que alguém fale alguma coisa, não morremos ou desaparecemos aqui no Canadá, na realidade fomos engolidos pelo dia-a-dia que por si só já nos demanda tempo em demasia. A vida vai tomando seu rumo, mesmo que ainda tenhamos inúmeros quilômetros a nadar até que cheguemos a águas mais mornas. Mas será que algum dia deixaremos de tentar nadar em águas revoltas?

Enquanto isso nós vamos acumulando conquistas nesses quase 7 meses de Canadá. Encontramos outros imigrantes com suas histórias tão variadas e muitas vezes tão mais complexas que a nossa, que não tem como não agradecer (ao nosso entrosamento? à Deus? ao planejamento? à sorte? à vida?) pelo nosso trilhar com poucos tropeços. Ou talvez seja somente o nosso modo de enxergar esses tropeços como algo corriqueiro e não tão importante.

O trabalho continua sendo a fonte de felicidades, ansiedades e aflições, gerando uma assimilação cultural que eu imaginava demorar mais tempo. O dia-a-dia me mostra que enquanto muitas coisas me surpreendem com sua distância abismal do costume brasileiro, outras vezes fico admirado ao ver como as pessoas não são tão diferentes assim (felizmente e infelizmente).

Ainda não tenho muita experiência para falar sobre o sistema de saúde Québecois, pois isso é tarefa do Marcos e não minha (rsrs), mas durante esse tempo felizmente conseguimos encontrar um médico de família e já fizemos os devidos check-ups do começo do ano. Um médico eficiente que nos pediu inúmeros exames que já tratamos de fazer o mais rápido possível (devo dizer que eu demorei um pouco mais). O que já me fez conhecer um hospital do Québec.
Como estava no hospital para fazer um exame somente, não posso dar meu parecer sobre a eficiência do seu serviço. Segundo manda o sistema de saúde, você só se dirige à urgência do hospital, se tiver realmente uma urgência. E suspeita de febre por causa de dor de garganta, ou qualquer outra coisa que não seja osso fraturado ou sangue espichando não é considerada urgências e devem ser encaminhadas para as clínicas sem ou com rendez-vous espalhadas pela cidade (descubra uma perto de você ligando para o info-santé e já passando pela sua primeira consulta pelo telefone rsrs). Fazendo esse caminho corretamente: clínica  -> hospital -> exame , eu demorei ao todo 1h30 minutos. Ainda não posso reclamar, né?

Os cursos continuam indo de vento em poupa. Com o novo semestre mais pessoas entraram na minha turma da francisação e aí eu fui perceber como minha turma original era avançada, muitos vão desistindo no meio do curso, pois falam que esse método é puxado demais pois é muito mais debate e discussão sobre a vida/notícias do que um curso gramatical. 

O inverno continua a fazer morada no Québec, mesmo esse não sendo tão frio quanto eles estão acostumados e tendo menos neve. Mesmo assim estou adorando pela possibilidade de ir me acostumando aos poucos ao frio que corta a pele, à neve que atrapalha o trânsito, com a beleza que é vê-la caindo e tirando a cor da paisagem deixando tudo como um quadro à espera de ser preenchido.

Existem inúmeras coisas que quero contar, prometo não ficar muito tempo sem escrever. Mas não fiquem preocupados, tudo está muito bem por aqui. Voltando um pouco ao assunto do começo do post: quem sabe não estamos aprendendo a boiar?

Abraços

17 de janeiro de 2012

Férias – parte 2

Olá pessoas,

Ainda contando a mesma história deste post quando tivemos nossas mini-férias aqui no Canadá.

Ainda falando de Ville de Québec, descobrimos durante as pesquisas pré-viagem que o grupo Cowboys Fringants faria show no Grand Théâtre de Québec e ficamos muito interessados.
Les Cowboys Fringants é uma banda neo-trad (misturando música foclórica modernizada quebequense com pop rock) e country de Repentigny (região metropolitana de Montreal). Os Les Cowboys Fringants são uma das principais bandas francófonas do Canadá, possuíndo alguma fama internacional em outros países francófonos, tais como a França e a Suíça, sendo também famosos pelas suas músicas de protesto.

Em um dos dias em que estávamos passeando pela cidade, resolvemos passar no local do show para comprar nossas entradas e conhecer um pouco daquela área que ainda não nos era conhecida. Não enfrentamos fila para comprar a entrada e conhecemos um pouco das instalações do teatro.

Mais tarde, depois de um dia de atividades chegamos um tempo antes do show e já vimos uma massa de jovens se dirigindo ao local. Ao entrar, o antes calmo teatro estava lotado de gente formando filas. Fomos deixar nossos casacos e vimos que uma das filas era das bebidas que eram permitidas na sala do show. Se vocês são como eu, já imaginaram garrafas voando, banho de cerveja e bêbados chatos. Com esse pensamento interessante, fomos procurar nossos lugares.

A sala do show é realmente na sala do teatro, tudo muito bonito e bem espaçoso. O show começou na hora marcada fazendo todos saírem do chão, pulando e cantando, foi incrivelmente interessante ver como os québecas se comportam e diferente do que tinha imaginado, não teve garrafa voando, nem bêbados chatos e nem cadeiras ou pessoas tomando banho de cerveja (ou outras bebidas), mesmo com o show possuindo um intervalo para as pessoas irem ao banheiro e reabastecerem os copos.
Foi possível sentir a tradição, entender o folclore e chegar um pouquinho mais perto da cultura Québecois durante o show. Ouvindo as histórias entre as músicas, entendendo as letras cheias de sentidos militantes e vendo o modo que as pessoas dançavam, fomos transportados para uma outra época. Tudo acompanhado do clima histórico que a própria cidade do Québec já nos proporciona e que cada vez mais perdemos aqui em Montreal.

Saímos depois sem empurra empurra e voltamos pra casa cantarolando as músicas que mais gostamos e adorando essa primeira experiência de show no Québec....






9 de janeiro de 2012

Processos Seletivos dos Cégeps para Integração de Enfermeiros



Olá a todos.

Este post é retrospectivo aos processos seletivos pelos quais passei desde que cheguei à Montréal. Relembro, como neste post anterior, que os enfermeiros devem fazer curso de integração (ou somente estágio) antes de receberem autorização para trabalhar e entrar na Ordem dos Enfermeiros.
As experiências foram interessantes e sempre envolvem uma boa dose de ansiedade e estresse, típicos desses ambientes de avaliação.

Na região de Montréal, atualmente três Cégeps oferecem o curso de equivalência, dois em francês (Vieux Montréal e Edouard-Montpetit, este em Longueuil) e inglês (John Abbott College). Eu fiz os processos de ambos os Cégeps em francês.
A seguir, uma breve descrição do processo de cada um deles:

1. Cégep Vieux Montréal
Turma de 24 alunos, com início previsto para dezembro. Avaliação em três partes:

1. Realizado no primeiro momento, na sessão de informação do curso:
a) ditado (dois parágrafos com situação hospitalar simples)
b) redação (duas opções de temas: conte um evento marcante na vida profissional; ou conte uma situação de dificuldade de comunicação e suas conseqüências).

2. Entrevista com enfermeira e coordenadora do curso.
Coordenadora questiona experiências anteriores de trabalho (e questiona se teria condições de acompanhar o curso uma vez que a maior parte de minhas experiências foram fora do hospital), motivações para o curso e porque de escolha do Vieux-Montréal; enfim, questões gerais para avaliar motivação e quanto o candidato conhece do curso.
Enfermeira coloca questões-casos hospitalares. As minhas perguntas foram:
a) Um paciente em 1º. dia de pós-operatório de cirurgia no quadril. Quais cuidados de enfermagem são necessários?
b) Um paciente está sentado em uma cadeira e lhe diz que está com tontura. O que você faz?
c) Um paciente aguarda no Pronto Socorro e lhe pergunta quais as diferenças entre infarto e angina. O que você responde?

3. Avaliação de cálculos de medicamentos. Não cheguei a fazer, pois não fui aprovado. Recebi um feed-back por escrito explicando as razões, centradas na melhora dos conhecimentos hospitalares.
Uma próxima seleção estava prevista para o fim de janeiro, mas até o momento (liguei para o Cégep na sexta) não há data definida.

2. Cégep Edouard-Montpetit – Longueuil
Turma de 30 alunos, com início para dezembro. Avaliação em duas partes:

1. Manhã da sessão de informação do curso: avaliação escrita.
a) Casos clínicos:
i. Paciente com hipo e hiperglicemia.
ii. Caso de edema agudo pulmonar, insuficiência cardíaca congestiva e insuficiência renal.
iii. Depressão e risco para suicídio.
iv. Ética: você vê um preposé (atendente) sendo rude com um idoso. O que você faz?

b) Cálculos gerais fundamentais (matemática simples)
c) Cálculos de medicamentos (simples e objetivos)
d) Questões pessoais sobre motivação, experiências profissionais anteriores.

2. Tarde da sessão de informação:
a) ditado (passé composé e imparfait)
b) testes orais (múltipla escolha)
c) teste escrito – interpretação de texto (múltipla escolha)
d) redação (tema: um mundo ideal, imaginário ou real)

3. Entrevista (de 10 minutos!) realizada 2 semanas após, com coordenadora do curso.
Comenta rapidamente o desempenho na prova e notas. Em seguida, perguntas diretas:
a) Quanto tempo de Canadá;
b) País de origem;
c) Em que trabalhava no Brasil;
d) Moradia atual;
e) Se tenho filhos;
f) Qualidades que os colegas de trabalho diriam que possuo;
g) O que meus colegas de trabalho diriam que tenho que mudar;

Finalizou a entrevista comentando que havia já uma lista de alunos pré-selecionados da turma anterior (setembro) que teriam preferência para entrada em dezembro e que eu ficaria na lista de espera, muito provavelmente. Pediu que aguardasse confirmação por escrito. Na confirmação por escrito estou pré-selecionado para a próxima turma, que começa em março próximo.

Bom, das minhas (e só minhas) impressões sobre os dois processos: Achei o processo do Edouard-Montpetit muito cansativo e desgastante, com todas as avaliações num dia só, mas mesmo assim o considero mais completo que o do Vieux. Há uma diferença em relação à forma de análise da documentação, pois no Vieux, o candidato só leva a documentação no dia da entrevista e no E-Montpetit, todo o kit é entregue antes das avaliações. Em teoria, isso permitiria que os selecionadores já soubessem um pouco mais dos candidatos antes do cara-a-cara, mas também poderia já criar um viés de pré-concepção ou pré-julgamento do candidato em função de seu CV, por exemplo.

Aos leitores que acompanham minhas peripécias (já esperadas) um muito obrigado pelos pensamentos positivos. Neste período que antecede o curso continuo a melhorar o francês, o que é mais do que importante.

Abs.
Marcos.

3 de janeiro de 2012

Férias! - Parte 1

Olá pessoas,

Nesse final de ano tivemos umas pequenas férias das nossas atividades de gente grande (cursos e trabalho) e resolvemos fazer o que mais gostamos: viajar (Jhon) e comer (Marcos).

Mesmo não sendo a primeira vez resolvemos ir para Ville de Québec aproveitar a virada do ano na capital da província.
Aproveito o momento para explicar que nós não somos pessoas ligadas a rituais ou cerimônias, então a história de “festa da virada do ano” é o que menos importava em toda a viagem para nós.

Poderíamos chegar lá de 4 modos : carro, trem, ônibus ou avião. Na semana em que estávamos decidindo qual o melhor método, recebemos um e-mail da Air Canadá avisando das fantásticas promoções do final do ano para diversas cidades ou países (das quais ir para Tóquio estava mais barato que ir para o Brasil...) incluindo Ville de Québec. Mas, decidimos ir mesmo de trem serpenteando a floresta, lagos e cidades do caminho, não nos arrependemos nenhum segundo.

No dia da viagem fomos até a Gare Central de Montréal para pegar a passagem que tínhamos comprado pela internet e despachar as malas. No horário programado o trem saiu dando início à nossa viagem.
O trem possui wi-fi para podermos passar o tempo navegando na internet, muuuito espaço entre os assentos (nada parecido com a classe sardinha econômica da Air Canadá) e serviço de “bordo” (que pode ser pago na hora de acordo com seu consumo ou parte do pacote ao comprar a passagem).

Chegamos na Gare do Palais em Ville de Québec e pegamos um Táxi para ir ao nosso hotel. Nesse momento já vimos que diferente de Montréal, nevava bastante por lá. Deixamos as coisas no hotel e fomos passear pela cidade que estava incrivelmente agradável.
Agradável não ficou quando no outro dia o céu  estava azul, sol de rachar e.... -32 graus de sensação térmica. A neve da cidade congelou e virou blocos de gelo que nos faziam andar com dificuldade, mas isso não impediu ninguém de sair na rua fazendo com que todos os lugares estivessem cheios de turistas e moradores da cidade.

Pausa para comentar a lição aprendida no frio de -32. Comprei uma luva nova, pois achava que a minha antiga não agüentaria tais temperaturas. A nova luva é muito boa, tanto que minha mão suou dentro dela devido à proteção contra o frio e esse foi o problema.
Como uma amiga costuma dizer, se vestir no frio é um treino de prospecção. Você não deseja passar frio, mas também não pode passar calor ao ponto de suar, o que fará com que seu suor seque fazendo com que sua sensação térmica caia bruscamente.
Eu já estava começando a sentir esses efeitos e uma leve dor nos meus dedos causada pelo frio, mas não estava ligando.
Nesse momento vimos um tobogã em que poderíamos descer em uma espécie de trenó. Lógico que fomos, porém descer em uma grande velocidade com o vento batendo nas minhas mãos já congeladas não ajudou muito. Quando terminamos eu já não sentia meus dedos. Fui me abrigar no starbucks e com o passar do tempo meus dedos começaram a doer bastante e continuaram doloridos até o outro dia.Mas isso não nos impediu de nada, passeamos por todos os cantos que queríamos.
A cidade estava se preparando para o final do ano e instalava em uma das grandes avenidas do centro, chamada de “Grande allée”, telões e alto-falantes para animar a festa até a meia noite, onde estouraram fogos de artifícios.
Nos outros dias o clima já retornou ao normal. Como brincou a repórter na tv o clima já tinha retornado ao ponto de congelamento, pois -32 fazia a geladeira um lugar agradável de se morar.
No dia da volta estávamos de volta na estação de trem Gare du Palais e pudemos notar que dependendo do trem que você pega algumas coisas mudam.
Primeiro que a gente não “despachou” a mala como na ida para a Capital Nationale, nós mesmos que carregamos a mala até o vagão que ficava o nosso assento. Na parte de trás de cada vagão existe uma espécie de bagageiro onde cada pessoa coloca sua mala e depois pega na hora de descer. Existem algumas paradas pelo trajeto e ninguém fica verificando para saber se você não está pegando a mala alheia.
Esse trem que pegamos pra voltar era mais velho do que o anterior, mas o conforto, wi-fi e tudo mais não foram alterados.

Coloco abaixo algumas fotos da viagem, e depois continuo contando outras coisas que fizemos nessas férias senão esse post fica grande demais.



















Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More